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sexta-feira, 1 de julho de 2011

Separação


Chuva, frio, vento... Uma porta se abrindo, cabeças baixas, olhares vazios, nada a se dizer!
Como pode ter acabado assim? Não era eterno? A promessa não era de estarem juntos até o final? Mas talvez o final seja exatamente esse.
O fato é que ficar ali já não era possível! Aquela casa, aquela pessoa que estava á sua frente, até ontem sua outra metade, hoje uma desconhecida. Virar as costas e sair? Pode parecer desaforo. Dar um adeus desejando boa sorte na vida? Vai soar como sarcasmo. Melhor é não dizer nada.
A mala está aos seus pés no chão frio, bem ali, do lado de todas as promessas e juras de amor um dia feitas, bem ali, no azulejo frio, exangue, agonizante...
Ele pega a mala, abre a porta e fecha a blusa. Sai. Dois passos, três, quatro... em cada um deles algo se funde numa mistura cada vez mais homogênea e difícil de classificar: dor, liberdade, frustração, esperança, arrependimento... difícil de classificar.
O intransponível gramado da frente é vencido. "Eu tinha de ter aparado essa grama", é a frase que lhe vem a mente acompanhada de um sorriso triste, a lembrança de uma função adiada muitas vezes e que já não mais seria possível cumprir, aquela já não era mais sua casa, já não era mais sua vida.
No portão ainda é nítida a sensação de ser observado lá de dentro, o coração aperta, mas ele é orgulhoso e não vai olhar pra trás, não dará o braço a torcer.
Ganha a rua, mas vai pra onde? Ainda não tinha pensado nisso. Apenas caminha em direção de algo, uma nova vida, um novo começo.
A chuva torrencial já se transformara numa garoa chata e gelada, como se os céus tivessem se acalmado para ouvir o palpitar de um coração solitário, um coração que hoje bate apenas por bater, sem nenhuma razão pra isso. Garoa, frio, vento...

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