Páginas

domingo, 19 de junho de 2011

Crescemos como humanidade... que lástima!

Muitos anos antes de sua morte, um notável rabino, Abraham Joshua
Heschel, sofreu um ataque do coração quase fatal. Seu melhor amigo
estava ao lado de seu leito. Heschel estava tão fraco que só conseguiu
sussurrar:
— Sam, sou grato pela minha vida, por todos os momentos que vivi.
Estou pronto para partir. Vi tantos milagres na minha vida.
O velho rabino ficou esgotado pelo seu esforço em falar. Depois de uma
longa pausa ele disse:
— Sam, nunca na minha vida pedi a Deus sucesso, sabedoria, poder
ou fama. Pedi assombro, e ele me concedeu.
Pedi assombro, e ele me concedeu. Um burguês sem imaginação irá
cutucar o nariz diante de uma pintura de Claude Monet; uma pessoa cheia
de assombro ficará ali em pé tentando segurar as lágrimas.
De modo geral, o mundo perdeu o senso de assombro. Crescemos. Já
não perdemos o fôlego diante de um arco-íris ou
do perfume de uma rosa,
como acontecia antes. Ficamos maiores e todo o resto ficou menor, menos
impressionante. Tornamo-nos apáticos, sofisticados e cheios da sabedoria
do mundo. Não deslizamos mais os dedos sobre a água, não gritamos
mais para as estrelas nem fazemos caretas para a lua. Água é H2O, as
estrelas foram classificadas e a lua não é feita de queijo. Graças à
televisão via satélite e aos aviões a jato, podemos visitar lugares que no
passado eram acessíveis apenas por Colombo e outros exploradores intrépidos.
Houve um tempo, não muito distante, em que uma tempestade fazia
um homem adulto estremecer e sentir-se pequeno. Deus, no entanto, está
sendo deixado de lado pelo mundo da ciência. Quanto mais sabemos
sobre meteorologia menos inclinados nos tornamos a orar durante uma
tempestade. Os aviões voam agora acima, abaixo e entre elas. Os
satélites reduzem-nas a fotografias.Tornamonos
complacentes, vivendo vida prática. Perdemos a experiência do
assombro, da reverência e da maravilha.
Heschel diz que hoje cremos que todos os mistérios podem ser
resolvidos, e que todo o assombro não passa do "efeito que o novo
imprime sobre a ignorância". Certamente o novo é capaz de nos
impressionar: um ônibus espacial, o jogo mais recente de computador, a
fralda mais macia. Até amanhã, até que o novo se torne velho, até que a
maravilha de ontem seja descartada ou tomada como coisa certa. Não é
de admirar que o rabino Heschel tenha concluído: "A medida que a
civilização avança, o senso de assombro declina".


Trecho extraído do Livro Evangelho Maltrapilho de Brennan Manning