Um baque seco de telefone colocado no gancho seguido de um impiedoso "tu-tu-tu...". Foi isso o que ele ouviu depois de um: "Desculpe, foi engano!"
Até aí tudo bem, enganos acontecem, um simples dígito trocado numa sequência de oito e pronto, você vai ser direcionado pra um desconhecido qualquer. O problema é que esse despretensioso e constrangido "desculpe, foi engano" foi dito simplesmente pela mais bela, afinada e doce voz que ele já tinha escutado.
Uma voz suave, com uma leve rouquidão que dava charme, provavelmente uma contralto, sua voz simplesmente entrou em seus ouvidos, correu pelas veias sem pedir licença...
Como ela pode ter desligado assim?
Quer dizer, não é porque foi um engano que precisa desligar correndo, se ela pelo menos tivesse dito seu nome, pra onde pretendia realmente ligar, contar uma piada de toc-toc ou de pontinhos amarelos, qualquer coisa, só pra prolongar um pouco mais a conversa, facilitaria pra guardar mais fundo o som da sua voz. Mas ao invés disso, o que estava do outro lado da linha agora era só o som de um telefone mudo, ditador e mecânico... foi ele quem o fez lembrar que tinha de colocar novamente o fone no gancho.
Que insanidade, paixão a primeira vista é algo bem bonito, mas a primeira audição?!? Isso soa como papo de maluco... Foi afastado desses pensamentos pelo som do telefone tocando...
- Alô (forçou o mais impaciente e sem graça que conseguiu, não queria falar no telefone com ninguém nos próximos minutos)
- Oi, eu não sei bem como falar isso, é que... é que... é o seguinte, meu nome é Luciana, eu acabei de ligar aí por engano, não sei se você lembra... Você vai me achar meio louca... maaaas...
